quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

O passado, o presente e o Judiciário

Uma fonte me ligou ontem no início da noite, de Brasília, perguntando se eu conhecia um artigo chamado “Chicago é aqui”, escrito pelo jornalista Friederick Brum, do qual ele se lembrou ao ler o post de ontem aqui no blog. Como eu nunca tinha ouvido falar, pedi ajuda ao Google e também para alguns colegas de profissão mais antigos. Fiquei impressionado com tamanha semelhança com o conteúdo da denúncia feita pelo Ministério Público Federal (MPF), a respeito da Operação Naufrágio. O detalhe é que o texto foi publicado na coluna Perspectiva, no dia 9 de julho de 1996, no jornal A Gazeta.

“Chicago é aqui”

“Era uma vez um reluzente prédio da Enseada do Suá, com filial na Cidade Alta. Em seu interior um birô de doutores versados em julgamento, em nível elevado, da ética, moral e bons costumes. Alguns dos doutores deveriam dar exemplo ao resto da sociedade, mas preferiram o caminho da corrupção. Criaram uma vasta e complexa organização voltada para extrair dinheiro de partes desejosas de obter decisões favoráveis em grandes causas. Não só dinheiro, mas também tráfico de influência e poder.

O esquema é executado através de três poderosas bancas, todas com representantes junto ao birô de doutores. A primeira banca, composta por Paulo Capone e Lenzinho, assessorados pelo pai de Lenzinho, este um dos doutores. Sua forma de atuar é simples: quando uma ação de vulto é proposta via Capone ou Lenzinho, o pai de Lenzinho é imediatamente acionado. Inicia-se, então um jogo de pressões ou de pedidos para que a decisão lhes seja favorável. A sociedade é rendosa o bastante para fazer de Lenzinho, aos 29 anos, um homem muito rico. Uma segunda banca foi constituída por iniciativa do ex-capo do reluzente prédio, o doutor Violeta. Esta sociedade é chefiada por Joãozinho, este filho daquele, que amealhou uma frota de carros e patrimônio estimado em US$ 1 milhão.

Neste esquema, um grupo de julgadores, entre ele Emanoel Leve e Cláudio Gordo, escolhem os processos que representam grandes interesses econômicos e financeiros e os enviam para o doutor Petronílio Honestino, este um membro do birô de doutores. A assessoria ao grupo é prestada por Jaime Preto.

A terceira banca é a mais conhecida. É chefiada pelo decano Geraldo PC, também membro do birô do reluzente prédio. Envolve outro membro do birô, além de um representante do povo muito conhecido por gostar de paletó. Há, ainda causídicos, um deles Lula (nenhuma semelhança, nenhuma coincidência).

A conexão entre o moço do paletó e os dois doutores é muito forte: todos os assuntos financeiros do birô lhes são enviados e sempre recebem apreciação positiva. Por outro lado, o moço do paletó pagou a cada um dos digníssimos membros do birô R$ 400 mil para que cuidassem de seus interesses.

A prova é que todas as ações vindas do moço do paletó chegam fatalmente às mãos do doutor Geraldo PC ou do outro membro do birô que faz parte do esquema da terceira banca. Embora tenham construído uma fachada institucional suficientemente alta para ocultar seus malfeitos, os membros da gangue não conseguem obter sucesso em tudo o que aprontam.

Assim como Al Capone de Chicago foi apanhado por sonegação, não por seus outros e maiores crimes, a gangue do Suá cometeu deslizes imperdoáveis para profissionais do crime. O tempo vai mostrar: Mesmo porque, membros limpos e dignos do birô, incomodados com a má fama que atravessa as paredes do reluzente prédio, já se movimentam para restaurar a dignidade perdida. Pronto, nossa história chega ao fim. O final feliz fica para mais tarde".

De acordo com artigo do doutor em Ciências da Comunicação e professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Victor Gentilli, “usando um texto quase de crônica e com metáforas e nomes assemelhados, o texto se refere ao Tribunal de Justiça e a vários desembargadores como comerciantes de sentenças.”

chuva de dinheiro Cada desembargador supostamente citado teria entrado com ação judicial por danos morais contra Friederick Brum e outros funcionários do jornal pedindo indenizações milionárias, segundo o texto intitulado “Vinte anos de jornalismo impresso no Espírito Santo.”

Não sei de quais desembargadores se trata o caso, pois nem mesmo o conhecia. Pesquisei pelo nome do jornalista em todos os sites dos órgãos do Poder Judiciário, mas nada achei e nem sei se chegou a ter julgamento. E pensar que depois de 13 anos, uma história muito semelhante reaparece cheia de detalhes revelados pela Polícia Federal. É muita coincidência. E você, o que pensa sobre tudo isso que está acontecendo com o Judiciário capixaba? Deixa seu comentário logo abaixo. Vamos pensar! Se expresse!

  • Manifesto de força I. O senador Renato Casagrande (PSB), pré-candidato do PSB ao governo do Estado, está preparando um grande ato político para o próximo dia 13 de março, no Teatro da Ufes, onde espera reunir pelo menos mil lideranças de todo o Estado.
  • Manifesto de força II.Como até lá o parlamentar não deverá ter definido se será ou não candidato ao Palácio Anchieta, o evento terá como justificativa oficial a prestação de contas do mandato.
  • Palanque em Viana. A direção estadual do PSB está inclinada a lançar o vice-prefeito de Viana, Carlos Lopes, à Câmara Federal, e o vereador do partido no município, Paulinho Brandão, à Assembléia Legislativa, nas eleições de outubro. Trabalha com a possibilidade de Casagrande assumir a candidatura ao governo e, com isso, precisar de um palanque no município.

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4 comentários:

  1. Olá grande jornalista! Parabéns pela sua atuação! Há tempos existia uma distância enorme entre os meros mortais e figuras com poder de noticiar (escrever, enfim elaborar) textos de grande repercussão na mídia capixaba. Hoje percebo que você tem quebrado um pouco isso, pois é alguém que manifesta o que pensa e ao contrário interpela, critica e deixa transparecer quem é o jornalista Fernando Mendes. Com isso, ganha reconhecimento pelo trabalho e notoriedade pela seriedade e firmeza na forma de desenvolver o seu trabalho.
    Com relação ao judiciário é lastimável tudo isso. Mais é salutar para a Democracia que haja transparência, contraditório e enfim, que tudo que está encoberto apareça. Pois precisamos saber se os poderes estão de fato atendendo a sociedade devidamente. Abraços e força na caminhada!

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  2. Fred Brum foi um dos melhores textos do nosso jornalismo. Também não sei o seu paradeiro. Estranho isso? Mas, entre os seus personagens o tal do Geraldo PC era o desembargador Geraldo Corrêa, o Geraldão, que presidiu o TJES.

    Muito amigo de Élcio Alvares, a quem costumava assinar habeas corpus nas madrugadas para soltar tipos perigosos como Cabo Camata, preso em flagrante na BR 101, Posto Rodoviário da Serra, com o carro com um arsenal bélico.

    Élcio, atuando como procurador do cabo, foi a casa de Geraldão em Guarapari que num papel qualquer (dizem que era desses embrulhar pão) concedeu o Habeas socilitado pelo amigo Élcio. Daí a denúncia do delegado Badenes de que o atual presidente da Ales estava na cabeça da pirâmide do crime organizado no ES (vide Istoé).

    O Lula citado, trata-se do advogado Lula Finamore de família quase honesta e que até hoje entra pelos elevadores privados do TJES pra tratar de assuntos de clientes. Tem fama de não perder uma parada.

    O Paulo Capone só pode ser o Paulo Copolillo, um bandido togado que continua inimputável.

    PS. Geraldão ganhou um processo contra A Gazeta no valor de meio milhão e dizia as gargalhadas no TJES que compraria o carro de seus sonhos (um importado qualquer) com "a grana desembolsada dos Lindemberg". Morreu, pelo que se sabe, sem dar uma voltinha no mimo em frente à Rede Gazeta, conforme arrotava na roda de puxa-sacos.

    Por conta desse prejú, Fred teria perdido seu emprego junto com o edito-chefe, um paulista chamado Bona, que teve parte dos 500 mil pagos a Geraldão descontados no acerto de contas com AG e ainda teve que se desfazer de alguns bens por conta disso.

    Vale a pena identificar os demais, pois nessa crônica do Fred é que está a raiz da imundície naquele Tribunal.

    Uma pergunta que gostaria de saber: Eu poderia me recusar a comparecer a um tribunal como uma imagem dessa e exigir que, se fosse o caso, ser julgado por uma instancia superior fora do ES???

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  3. tomei conhecimento que o Paulo Copolillo a que me referi no post anterior teria morrido, fazendo companhia ao Geraldão

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  4. Fico a me perguntar: por onde anda do Fred. A última notícia que tive dele, dava conta que ele estaria em São Paulo... Será? Ele tinha muitos amigos aqui.. é estranho que ninguém tenha notícias....
    Quanto ao judiciário.... que vergonha...lamento que essa bandalheira toda tenha aconhecido diante dos nossos olhos e ninguém tenha conseguido torna-la pública.... mas tudo o que foi mostrado ainda é pouco, diante das maracutáias que se encondem embaixo daquelas vestes negras. são as exceções,tem muita gente ali que deveria estar atrás das grades....

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