
A decisão do governador Paulo Hartung (PMDB) de ficar no cargo até o final do mandato e seus movimentos nos últimos dois dias inflamou o mercado político de tal forma que não é difícil acreditar que poderá ter uma reviravolta e até um racha no grupo palaciano.
Isso porque muitos se sentiram completamente traídos pelo governador, principalmente o PT, que tinha condições de sair na frente pela disputa pelo governo do Estado este ano, mas abriu mão da candidatura própria para apoiar o vice-governador Ricardo Ferraço (PMDB), contando que este não poderia disputar a reeleição e que em 2014 receberia apoio dos peemedebistas.
E para completar, na última quinta-feira Hartung declarou apoio público a uma eventual candidatura do seu histórico adversário e prefeito da Serra, Sérgio Vidigal (PDT). Depois desses dois fatos, o PT colocou um pé atrás com relação ao governador. Dá para confiar?
O problema é que, com Hartung no cargo até dezembro, muda completamente o cenário traçado até aqui. Principalmente com a abertura de uma vaga na disputa pelo Senado, que seria do governador. O PDT, que até então dizia que não se interessava por cargos e que só queria participar do governo, já pleiteia a vaga.
O PT, mesmo tendo a vice na chapa de Ferraço, também já fala em querer o espaço. Ou seja, não há mais um equilibrio na base de apoio a candidatura do vice, que ontem, inclusive, já não falava com tanto entusiasmo em sua candidatura. O PR parece não estar satisfeito também, pois ficou de fora dessas últimas negociações.
Hartung deixou o tabuleiro completamente embaralhado. Deu um nó em tudo o que já foi construído até aqui. Mas há quem avalie que até o dia 3 de abril, data-limite para que ele deixe o governo para disputar o Senado, muita coisa pode mudar. Até mesmo o governador poderia rever sua posição, surpreendendo mais uma vez o mercado político.

O final de semana será de intensas conversas e reflexões sobre os possíveis novos arranjos, que levarão em consideração que não dá para confiar em acordos de longa data e traçados dentro de gabinetes. É preciso sentir na rua a densidade de cada um e saber o peso que se tem junto ao eleitorado, pois apostar somente na transferência de voto de Hartung não deu certo.
Algumas lideranças avaliam que a decisão do governador, de certa forma, é para tentar garantir a eleição de seu vice, pois não pegaria nada bem para uma liderança muito bem avaliada e com uma ampla base de apoio, o fato de não conseguir fazer seu sucessor. Ainda mais sendo derrotado por candidatos que estão isolados e sem alternativas de alianças fortes.
PSB e PSDB, que também têm candidaturas ao governo, não gostaram da permanência de Hartung no Palácio, pois acreditam que, de certa forma, blinda o vice durante o processo eleitoral. Agora Ferraço poderá ficar livre para tocar sua campanha, pois os desgastes e os projetos deverão ser tocados pelo governador.

Hartung também segura com mais facilidade o apoio da maioria da Assembleia Legislativa e também dos prefeitos ao nome de Ferraço. O problema é que a instabilidade está instalada. As negociações deverão ser todas refeitas, mas agora com um ingrediente novo. Após ver essa reviravolta e o governador cheio de amores com um até então adversário seu, alguns pensam se é possível confiar nesses acordos e correr o risco de perder uma oportunidade. Essa é a pergunta que os partidos estão se fazendo. Essa interrogação poderá mudar os rumos daqui apara frente.
- Ministro. Há quem avalie que Hartung pensa em remontar a seguinte estrutura: PT e PDT juntos para disputar o governo e Ferraço e o senador Magno Malta (PR) na corrida pelo Senado. Com isso, o governador sairia bem na foto com o PT nacional e ganharia mais espaço peso em um eventual cargo no governo federal a partir de 2011.
- Sem saída. Algumas lideranças apostam que Vidigal não pode sair do comando da Serra para disputar nada, pois entregaria o segundo maior colégio eleitoral nas mãos do PSB, que conta com a candidatura do senador Renato Casagrande ao governo.
- Sem ressentimento. Do vice-governador Ricardo Ferraço, sobre Hartung declarar apoio a Vidigal para o Palácio e não ter declarado a ele até agora: "Somos parte de um mesmo grupo e tudo isso é muito tranquilo."
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