segunda-feira, 29 de março de 2010

A união nem sempre faz a força

Mesmo com o amplo apoio de diversos partidos e lideranças, os conflitos dentro do grupo político que apoia a candidatura do PMDB (Ricardo Ferraço) ao governo deixou claro nesta última semana que nem sempre a união faz a força. Por outro lado, ainda que separados e isolados, os projetos do PSB (Renato Casagrande) e PSDB (Luiz Paulo Vellozo Lucas) aparentam ganhar força a cada dia. Como explicar isso?

Em política é assim mesmo. Nem tudo que parece é. E os cenários podem mudar de uma hora para outra. Como dizia o ex-presidente Tancredo Neves, a política é como as nuvens. Olhamos e elas estão de uma forma. Quando olhamos novamente já mudou.

E foi assim que tudo aconteceu. Quando olhávamos para a base de apoio a Ferraço, ela parecia sólida, com seus membros confiantes até demais. Muitos se atreviam até mesmo a dizer que era só homologar o nome do peemedebista, ignorando completamente a opinião do eleitor.

No entanto, segundo uma fonte ligada ao governador Paulo Hartung (PMDB), tudo mudou após o resultado de algumas pesquisas de consumo interno do governo e do evento de prestação de contas de Casagrande, na Ufes, que reuniu um número expressivo de lideranças e empresários.

Segundo esta fonte, esses dois fatos pesaram na decisão do governador, que até então tinha certeza que conseguiria trazer o senador para sua aliança, com aquela "agulha e linha forte" que ele havia anunciado lá atrás. Sob o risco de não conseguir eleger seu sucessor, resolveu usar a agulha para espetar seus adversários e a linha para amarrar novas costuras. E foi aí que ele resolveu não deixar o Palácio Anchieta para disputar uma vaga no Senado Federal.

Com a saída de Hartung da corrida eleitoral, seu grupo começou a trocar farpas entre si publicamente e a optarem por caminhos diferentes, sem sintonia, cada partido de olho no poder que uma vaga no Senado pode lhe conceder.

Enquanto isso, PSB e PSDB ficam de camarote, esperando que o grupo palaciano se autoflagele. Ambos não têm pressa, pois nenhum de seus candidatos precisam se desincompatibilizar para disputar a eleição. No ano passado, eles até tentaram uma composição, mas não foi viável devido aos rumos nacionais que as duas legendas traçaram.

Mas diante dos últimos cenários, avaliam que não precisam se preocupar muito, pois um segundo turno está praticamente certo nas eleições do Espírito Santo. E uma coisa já é certa entre as duas siglas, quem passar terá o apoio do outro na disputa.

Lideranças das duas legendas avaliam ainda que, após o mês de abril, Casagrande se colocará como candidato oficialmente, aumentando um fenômeno político classificado como "expectativa de poder", o que irá polarizar mais a disputa e poderá trazer alguns partidos para o até agora isolado PSB.

Enquanto isso, o socialista corre atrás dos partidos mais nanicos que, pelo que vimos até agora no grupo palaciano, aparentam não participar das discussões e nem dos acordos do PMDB. São com esses pequenos detalhes que o PSB vem ganhando força.

Já o PSDB, praticamente já conta com o apoio do PTB e também espera com um pensamento mais positivo a chegada do PPS em sua chapa. Já os aliados históricos, os Democratas, deverão ficar de fora, pois uma de suas principais lideranças é o deputado estadual Theodorico Ferraço, pai do candidato do PMDB ao governo.

E assim prossegue a corrida eleitoral, com muitos cálculos, arranjos, negociações e muita conversa de bastidor. Essa reviravolta toda serviu para mostrar também que nem sempre os acordos de cúpula e gabinete se refletem na opinião do eleitor. É preciso descer um pouco mais dos pedestais para sentir a realidade das urnas. É necessário andar com o povo e ouvi-lo. Só em solenidades isso não é possível.
  • Reunião I. Hartung reúne hoje, a partir das 16 horas, no Palácio Anchieta, todo o primeiro escalão para a primeira reunião de secretariado após seu anúncio de que não sairia do governo para disputar o Senado.
  • Reunião II. A ocasião deverá servir de despedida para os secretários que estão deixando sua equipe para disputar as eleições. Também marcará a saída total do PSB de seu governo, assim como já ocorreu com o PSDB.
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Um comentário:

  1. "Enquanto isso, o socialista corre atrás dos partidos mais nanicos (...)".

    Fernando, sei que isso "faz parte do jogo", como se diz. Mas é exatamente aí que reside a maior parte da crítica que faço ao nosso sistema partidário, que facilita, ou melhor, implora pela negociata, pela barganha, pelas relações promíscuas entre as legendas que, em raríssimos casos, pautam as suas alianças pela ideologia do partido, ou mesmo, em análise micro, conjuntural, por convergências em relação aos programas de governo.

    Sem querer partir para a generalização, que também não concordo, mas boa parte dos chamados "nanicos" existem somente para isso: negociar apoio em troca de sabe-se lá o que. É por isso que condeno a expressão "mercado político", embora concorde com outra, "capital político", ainda que também com algumas ressalvas.

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