sábado, 20 de março de 2010

Cenário inflamado

A decisão do governador Paulo Hartung (PMDB) de ficar no cargo até o final do mandato e seus movimentos nos últimos dois dias inflamou o mercado político de tal forma que não é difícil acreditar que poderá ter uma reviravolta e até um racha no grupo palaciano.

Isso porque muitos se sentiram completamente traídos pelo governador, principalmente o PT, que tinha condições de sair na frente pela disputa pelo governo do Estado este ano, mas abriu mão da candidatura própria para apoiar o vice-governador Ricardo Ferraço (PMDB), contando que este não poderia disputar a reeleição e que em 2014 receberia apoio dos peemedebistas.

E para completar, na última quinta-feira Hartung declarou apoio público a uma eventual candidatura do seu histórico adversário e prefeito da Serra, Sérgio Vidigal (PDT). Depois desses dois fatos, o PT colocou um pé atrás com relação ao governador. Dá para confiar?

O problema é que, com Hartung no cargo até dezembro, muda completamente o cenário traçado até aqui. Principalmente com a abertura de uma vaga na disputa pelo Senado, que seria do governador. O PDT, que até então dizia que não se interessava por cargos e que só queria participar do governo, já pleiteia a vaga.

O PT, mesmo tendo a vice na chapa de Ferraço, também já fala em querer o espaço. Ou seja, não há mais um equilibrio na base de apoio a candidatura do vice, que ontem, inclusive, já não falava com tanto entusiasmo em sua candidatura. O PR parece não estar satisfeito também, pois ficou de fora dessas últimas negociações.

Hartung deixou o tabuleiro completamente embaralhado. Deu um nó em tudo o que já foi construído até aqui. Mas há quem avalie que até o dia 3 de abril, data-limite para que ele deixe o governo para disputar o Senado, muita coisa pode mudar. Até mesmo o governador poderia rever sua posição, surpreendendo mais uma vez o mercado político.

O final de semana será de intensas conversas e reflexões sobre os possíveis novos arranjos, que levarão em consideração que não dá para confiar em acordos de longa data e traçados dentro de gabinetes. É preciso sentir na rua a densidade de cada um e saber o peso que se tem junto ao eleitorado, pois apostar somente na transferência de voto de Hartung não deu certo.

Algumas lideranças avaliam que a decisão do governador, de certa forma, é para tentar garantir a eleição de seu vice, pois não pegaria nada bem para uma liderança muito bem avaliada e com uma ampla base de apoio, o fato de não conseguir fazer seu sucessor. Ainda mais sendo derrotado por candidatos que estão isolados e sem alternativas de alianças fortes.

PSB e PSDB, que também têm candidaturas ao governo, não gostaram da permanência de Hartung no Palácio, pois acreditam que, de certa forma, blinda o vice durante o processo eleitoral. Agora Ferraço poderá ficar livre para tocar sua campanha, pois os desgastes e os projetos deverão ser tocados pelo governador.

Hartung também segura com mais facilidade o apoio da maioria da Assembleia Legislativa e também dos prefeitos ao nome de Ferraço. O problema é que a instabilidade está instalada. As negociações deverão ser todas refeitas, mas agora com um ingrediente novo. Após ver essa reviravolta e o governador cheio de amores com um até então adversário seu, alguns pensam se é possível confiar nesses acordos e correr o risco de perder uma oportunidade. Essa é a pergunta que os partidos estão se fazendo. Essa interrogação poderá mudar os rumos daqui apara frente.

  • Ministro. Há quem avalie que Hartung pensa em remontar a seguinte estrutura: PT e PDT juntos para disputar o governo e Ferraço e o senador Magno Malta (PR) na corrida pelo Senado. Com isso, o governador sairia bem na foto com o PT nacional e ganharia mais espaço peso em um eventual cargo no governo federal a partir de 2011.
  • Sem saída. Algumas lideranças apostam que Vidigal não pode sair do comando da Serra para disputar nada, pois entregaria o segundo maior colégio eleitoral nas mãos do PSB, que conta com a candidatura do senador Renato Casagrande ao governo.
  • Sem ressentimento. Do vice-governador Ricardo Ferraço, sobre Hartung declarar apoio a Vidigal para o Palácio e não ter declarado a ele até agora: "Somos parte de um mesmo grupo e tudo isso é muito tranquilo."

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7 comentários:

  1. Quem mais perde com o “fico” do governador Paulo Hartung é o PT e PDT. Neo-aliados do governador, Coser e Vidiagal, estavam com um olho no governo de Ferraço e o outro no apoio do governo na sucessão em 2014. Sem a garantia para 2014, como apaziguar a militância que nunca teve simpatia pela candidatura de Ferraço?,
    Em 2002 o PSB- aliado histórico do PT- não teve a apoio dos petistas porque estes diziam que não confiava em Hartung. E agora José? José para ooonde!!!!!!

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  2. Vejo com reservas o anuncio de que ele não disputará uma cadeira no senado, acho que foi uma excelente jogada para mover importantes lideranças dentro e fora do estado gerando um clamor pela 'candidatura PH ao senado'.

    Desta forma se resolve vários problemas, passa a impressão de que ele realmente se importa com os capixabas e só está deixando o governo por um clamor social muito grande não tendo nada haver com seus desejos pessoais.

    Em outra ponta, abafa toda aquela história que poderia virar um mancha em sua biografia o (des)caso com os presidiários do estado e também com a seguraça pública.

    Só tenho uma certeza nisto tudo, seja como for creio que PH sairá ganhando, mesmo perdendo.
    Afinal foi assim nas eleições municipais né?

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  3. Será que o governador deixando o PT na mão, não está tentando forçar a barra com o governo federal para solução dos royaltes do petroléo?

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  4. Não gosto da expressão "mercado político".

    Contudo, após o anúncio do "fico" de Hartung, as coisas tendem a se mostrar dessa forma: um verdadeir "fuzuê" foi instaurado no grande balcão de negócios do mercadão político.

    Hartung atraiu (mais ainda) os holofotes para si. Eu só sei que nada sei e que tudo pode acontecer. Vamos aguardar pelos desdobramentos.

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  5. Minha avaliação nessa história toda é que o governador PH não se sentiria muito bem em ter feito um esforço para mudar a cara do estado e sair agora em meio a uma crise (royalties, presídios, etc..) deixando a sensação de que nadou, nadou e morreu na praia..., afinal esses dois assuntos mexeu com o seu governo.

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  6. Acredito que com a permanência dele no cargo, o governador tem mais força pra usar a máquina em favor do seu sucessor (seja ele Coser ou Ferraço) e minar a candidatura de Malta e enfraquecer Vidigal

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  7. Achei o comentário de Tiago Shux sobre o povo clamar por Hartung no Senado bem próximo da realidade, mas a análise que faço é outra:

    Imaginem um estado onde o governador não tenha tanta influência sobre tudo (inclusive sobre uma parte da imprensa)? Não seria mais saudável que seu sucessor fosse eleito, não porque se parece mais com ele do que seus adversários, mas porque possui propostas de avanços em áreas onde o governo notadamente fracassou (como a segurança e a saúde, para citar o óbvio)?

    Se o E.S. parasse de reverenciar Hartung como seu deus-imperador, reconhecendo sua boa gestão apenas como uma obrigação de todo ente público, os partidos políticos não estariam tão desbaratinados com a decisão do governador. Mas é claro que não é assim que funciona... No Brasil, o continuísmo é visto como a única solução para a insegurança com o futuro, do tipo "ruim com ele, pior sem!"

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